Há poucos dias o governo chinês decretou o fim dos testes em animais que eram obrigatórios para a maioria dos cosméticos importados de “uso comum”, como maquiagem, fragrâncias, unhas e itens de cabelo, que entrarem no País. Nestes casos, as marcas deverão apresentar certificação e avaliação sobre a segurança dos produtos. A última atualização da novidade é de que França e Reino Unido poderão importar produtos esse tipo de cosmético de lá, desde que sejam fabricados com as Boas Práticas de Fabricação (GMP).
É um passo importante, já que até marcas consideradas veganas e limpas, quando vendidas na China, precisavam apresentar testes convencionais por uma exigência para o País. Uma lógica que gera sempre muito confusão: “ih, mas a marca não é vagana?”. “ah, mas se vende na China, testa”…
Há quem esteja animado para uma Era Cruelty-free, outros sabem que é tudo bem mais complexo. Infelizmente, produtos infantis e os chamados “especiais”, como protetor solar, ainda estão na regra antiga. Fora a questão de empresas ditas veganas mais que usam substâncias suspeitas de afetarem a natureza e, logo, todas as formas de vida. Mas isso é uma outra dualidade a se aprofundar…
Testes em animais, isso ainda existe?!
É surpreendente se deparar hoje com a ignorância – no sentido de ignorar mesmo, não procurar saber – diante do tema, certo!? Mas é real. Mesmo em um cenário onde já existem mais de trinta testes alternativos para avaliar cosméticos aprovados pelo OCDE.
Embora uma pesquisa, da ONG Te Projeto, afirme que 84% da população acredita que as empresas devem informar claramente se testam seus produtos em animais, como isso se traduz na prática?! E quando trata-se de abrir mãos dos cosméticos e marcas favoritas?!
A impressão, muitas vezes, é que o mundo está ecológico e cruelty-free diante de tantas publicidades de apropriando dos termos ambientais – quase sempre beirando ao greenwashing – , mas é só olhar ao redor que podemos percebemos que esta é uma ideia ilusória de quando passamos tempo demais dentro dos limites da nossa bolha verde – logo, interagindo só com pessoas que já despertaram o mínimo possível para a empatia ambiental.
Em uma observação geral, aqui do meu lado de quem, há tanto anos, pesquisa as vertentes da beleza consciente, a maioria das pessoas sabe sim que cada escolha tem seu impacto, inclusive em relação à crueldade animal. É mais confortável, no entanto, seguir em um zona de conforto fingindo. Assim continuam com seus caprichos, mas não sofrem. Como certa vez escutei de ativista de paz e pelos animais, o Oberom Silva, autor do livro “Vegan Yoga”: “a ignorância é uma benção”.
Números e outros impactos: um resumo do cenário da beleza com crueldade
curta Salve o Ralph
Coelhos, porquinhos-da-índia e camundongos são os animais mais utilizados nesses testes, que não utilizam nenhum artifício para reduzir a dor. É uma coisificação da vida animal defendida por consumidores e por uma parte da comunidade científica.
500 mil animais por ano são vítimas de laboratório para análises cosméticas;
Um único produto livre de crueldade animal salva, em média, cento e cinquenta animais
Existe 30 testes alternativos para avaliar cosméticos aprovados pela OCDE e eles tem de 80% a 100% de eficácia. Exemplos: culturas celulares, tecidos humanos doados por voluntários, modelos computacionais e estudos com voluntários.
Recentemente o curta-metragem “Salve o Ralph” foi lançado para mostrar a saga do coelho Ralph sendo entrevistado sobre sua rotina diária como cobaia. A Humane Society International, responsável pela produção, lançou na internet a campanha #salveoRaph, jogando os holofotes sobre o problema.
E então: existe beleza onde há crueldade? Quando de crueldade há na sua rotina de vaidade?
Portanto, como pensar em uma beleza natural, sustentável e ecológica, envolvendo crueldade de seres inocentes? Não existe esta possibilidade. Não à toa as certificações de formulas naturais e orgânicas não permitem testes, mesmo emitindo para marcas não veganas, ou seja, que usam insumos de origem animal.
PETA, Leapping Bunny, Choose Cruelty Free e SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) são instituições que verificam a certificam as empresas nesta questão. Mas é sempre importante questionar e dialogar com a própria marca. A diferença entre as categorias você pode conferir aqui e aqui
Beleza limpa vai além de fórmulas livre de substancias para o meio ambiente e para a saúde humana, também é sobre ética e respeito a natureza de uma forma sistêmica.
Cruelty-free não é tendência, é urgência – mas precisamos olhar além
Por fim, deixo uma reflexão que vai além dos coelhinhos nas embalagens. Não ter passado por testes crueis, basta para um produto ou empresa seja cruelty-free? E qual é impacto ambiental por trás operações da marca? Como ela se posiciona diante de crises ambientais, catástrofes políticas? E as fórmulas? Tem substancias que poluem as águas, por exemplo, desequilibrando a vida marinha e matando a vida naquele habitat?
O futuro precisa ser cruelty-free, mas de verdade.
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