Aqui faço um relato da experiência empoderadora que tem sido doar meu sangue menstrual à terra – todos os meses. E deixo o convite para que você possa resgatar esse habito ancestral
Eu devolvi meu sangue menstrual à terra pela primeira há quase dois anos. Eu estava em uma pesquisa informal sobre Sagrado Feminino, e cheguei ao movimento Plante Sua Lua, liderado pela terapeuta Anna Sazanoff, de Curitiba. Apesar de ser um gesto totalmente fora dos padrões em uma sociedade que impõe que menstruar é sujo, doloroso e ruim, eu não senti repulsa ao ler sobre esse ritual. Pelo contrário: senti uma vontade visceral de fazer também.
É que recuperar o poder dos nossos ciclos naturais é algo que está em cada uma de nós. Em tempos quase que imemoriais, nas tradições matriarcais originárias, devolver o sangue menstrual à terra era um hábito comum entre as mulheres*. Na verdade, acreditava-se que o sangue tinha poderes mágicos.
Este ritual, chamado de plantar a lua, foi praticamente perdido, mas movimentos que buscam resgatar e empoderar-se da ancestralidade, e que pregam maneiras mais gentis de se relacionar-se com o próprio corpo e a condição de ser mulher, tem trazido esse hábito de volta.
E esse resgate inclui cada uma de nós – da mulher que tem uma rotina pacata no interior ou a cosmopolita da cidade grande. E vice-versa.
Eu e meu sangue. Nós
É no meu apartamento aqui na capital paulista, onde vivo atualmente, em um dos meus vários vasinhos de flor, acomodados em uma estreita área de serviço, que comecei a entregar o meu. Hoje, costumo fazer também em um parque a 10 minutos de casa. Cada uma com as suas possibilidades.
(Imagem: da artista francesa Cendrine Rovini)
Como plantar a minha lua
É simples. Mas impossível para quem usa absorvente convencional de plástico – o que significar jogar, junto, no lixo, nossa energia vital, que é drenada e enfraquecida.
Para quem usa o coletor menstrual, basta diluir o sangue em água em um recipiente de vidro. Aliás, tenha um potinho apenas para esta função. Aliás, a água também entra aí como um elemento protetor.
Se você usa absorvente de pano – meu caso – basta deixá-lo de molho em água e depois entregar o sangue à terra. Depois disso, sim, você esfrega e lava o seu absorvente com sabão.
Tem magia? Não, tem intenção. Mas não seria a intenção o ingrediente principal da magia?
Reflexões à parte, você pode simplesmente fazer sue ritual e pronto. Mas também pode mentalizar a cura que gostaria de receber, algum aspecto emocional que precisa nutrir ou simplesmente vibrar em sentimento de gratidão. É um momento sagrado e simples. Se aquiete, medite e ouça a sua intuição.
No meu caso, esse ritual me ajudou a deixar de vez os anticoncepcionais – quando comecei a plantar a lua, eu ainda transitava entre o vai-e-vem com a pílula.
E quem não tem útero? “Elas têm útero etérico, e podem honrar o ritual com vinho tinto a cada lua nova, se assim sentirem”, afirma a terapeuta e facilitadora de círculos portuguesa, Inês Gaya. Segundo ela, com quem tenho me aprofundado nos estudos do Sagrado Feminino, elas podem usar o vinho tinto ou mesmo um suco de cor escura para simbolizar e fazer conexão entre a própria energia com a terra.
O que acontece depois, você deve estar se perguntando…
Ilustração: Ana Schirmer
Plantar a lua tem sido um gesto extremamente fortalecedor na minha jornada de resgatar a ancestralidade, de estreitar a minha relação com meu corpo e, sobretudo, de honrar meus ciclos e a energia feminina. Atribuo a este gesto a resiliência e potencial intuitivo que resgatei nos últimos tempos.
Neste ritual está a oportunidade de ressignificar a relação com o nosso sangue e com o nossos ciclos femininos. Por muito tempo eu fazia o ritual timidamente somente pelo simbolismo. E ficava lá, admirando a fusão entre sangue e terra. Até que, em maio de 1016, durante um retiro Danza Medicina aqui no Brasil, com a Morena Cardoso, ouvi dela um pouco mais da lenda que envolve esse gesto ritualístico : “Uma antiga profecia afirma que no dia em que todas as mulheres devolverem seu sangue sagrado para a terra, as guerras então chegarão ao fim.”
Plantar a lua é para todAs. E esse gesto reverbera em todOs. Se eu pudesse aconselhá-la como quem inspira uma amiga, seria: plante sua lua.
“Muitos desequilíbrios físicos podem ser evitados e sanados através desta prática: ovário policístico, miomas, ciclo menstrual irregular, cólicas e desconfortos da menstruação, infertilidade, tensão pré-menstrual, etc. Plantar sua lua é com certeza o primeiro passo para a reequilibração de seu corpo físico; não descartando outras formas de tratamento e cuidados”, diz Morena Cardoso.
Dia Mundial do Plante Sua Lua: 6/08
Sabe a lenda que citei alguns parágrafos acima? Que tal honrá-la? No dia 6 de agosto mulheres do mundo todo irão se manifestar doando seu sangue juntas, em locais públicos em uma cerimônia de honra e consagração do nosso feminino! Quer se juntar a estas mais de 500 mulheres neste lindo feitio?
Fotos: a primeira imagem acima são de autoria desconhecida. Caso você conheça a artista, me conta para eu poder dar os créditos?!
Seguimos juntas. Ahá!
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