Aqui pelo ocidente sempre fomos acostumados a enxergar o cacau como um ingrediente para sobremesas, não é mesmo? Mas a verdade é que, desde tempos imemoriais, ele tem sido usado em cerimônias pelos sul-americanos. É o chamado cacau medicinal. É que o cacau tem um ativo chamado teobromina, reconhecido como “Alimento dos Deuses”. Puro, o cacau melhora o fluxo sanguíneo e prânico, relaxa os vasos sanguíneos e abre nosso coração em nível físico e energético.
Marcela Rodrigues em Cacau Cerimonial (foto: Mayara Tutumi)
“Originalmente o cacau cerimonial é feito a partir da torra da semente selvagem. Quanto menos processado, mais ele tem antioxidantes. A partir deste subproduto é feito o chá de cacau, que por sua vez, através de uma ritualística, promove a liberação energética e de várias substâncias químicas naturais do corpo, como serotonina e dopamina”, escutei da a terapeuta e entusiasta da cerimônia, Mahê Ferreira (@maheferreira – foto abaixo), que criou a Comunidade do Cacau para disseminar a prática.
Mahê Ferreira: cacau cerimonial (Foto: acervo pessoal)
Em resgates ocidentais e contemporâneos, a prática tem sido conduzida com o cacau em barra 100%. Neste caso ainda estamos falando da versão pura, sem adição de açúcares, leites ou aditivos ̶e, de preferência, de origem agroflorestal, cujo processo de desenvolvimento respeita o solo e os ciclos da natureza. Vale lembrar que o Sul da Bahia tem ótimos chocolates orgânicos.
A cerimônia do cacau
A cerimônia não pede uma precisão nos ingredientes, mas é respeitoso seguir o máximo possível do que é feito há tanto tempo. Basicamente o cacau cerimonial leva um pedacinho de 40g ̶ ou 20g para 300 ml de água. Pitadas de pimenta-do-reino e pimenta caiena. Para quem ainda sente de adoçar até se adaptar, pode-se colocar um pouco de açúcar mascavo ou de coco ̶ nunca um açúcar industrializado, respeitando ao máximo o feitio original.
Cacau cerimonial: 100% puro, com alto teor de teobromina
Outras especiarias são bem-vindas, como cardamomo. Primeiro coloca-se a água quente, depois os ingredientes. Mexa bem até encorpar e ficar parecido com um chocolate quente, porém um pouco mais ralo. Para além das fronteiras sul-americanas, a cerimônia é ancorada em diferentes práticas e conduções. Mas, em geral, pode ser mais simples do que pensamos: pede intenção e presença. É importante, no entanto, mantermos gentileza nas ações ̶ do ambiente ao feitio. Vale passar um incenso ou mesmo usar mantras para elevar a vibração. Por aqui eu faço o preparo ao sons devocionais. E Mahê conta que, além de trazer para perto seus objetos de poder, costuma cantar um mantra que aprendeu com uma anciã na Guatemala, onde se iniciou na prática. Vale destacar que, apesar de ter o xamanismo como berço, o cacau medicinal não promove efeitos alucinógenos. Da minha primeira experiência com um cacau medicinal, conduzida por uma conhecida em um grupo de mulheres, até retomar o hábito, foi um longo tempo. Então, no seu tempo, fica o convite para olhar o cacau para além de um doce comercial.
com carinho, Marcela