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Sagrado feminino: a volta da essência que (quase) nos foi tirada

Durante muito tempo, a menstruação foi reconhecida como parte natural da rotina e saúde da mulher.  As ervas curavam doenças físicas e emocionais, enquanto parteiras e doulas conduziam o parto de maneira natural. Com a chegada da tecnologia, da medicina e da indústria, vieram os anticoncepcionais, bombas hormonais que, além da possível causa de problemas de saúde, nos impedem de acompanhar nosso ciclo e reconhecer a essência feminina.

{#reflexão #autoconhecimento}

De geração em geração, a sociedade foi enraizando, por exemplo, a crença de que menstruar é algo ruim, doloroso e sujo. Tente se lembrar da primeira vez em que viu uma mulher se manifestando sobre a TPM. Elas falaram coisas boas em torno do assunto? Ou os sentimentos e reações foram negativos? Sem falar na falsa fama de que mulher tem instinto competitivo entre si.

“O formato social em que vivemos nos deu infinitas possibilidades de conquistas – da liberdade profissional à sexual-, mas nos afastou do que nos era natural. Antigamente fazíamos tudo  juntas: plantar, colher, cozinhar, cuidar dos filhos. Ao nos afastarmos e nos isolarmos perdemos a dose maravilhosa de ocitocina, hormônio do amor que produzimos no trabalho de parto e quando estamos entre mulheres”, explica a curitibana Anna Sazanoff, terapeuta aiurvédica e co-idealizadora do Festival Sul Americano dos Sagrados Saberes Femininos — a primeira edição brasileira, aliás, acontece no próximo dia 18 de março, na Bahia, e vai reunir  mulheres com o mesmo propósito.

Graças a tais avanços tecnológicos, científicos e comportamentais, ficamos prontas – ainda bem! – para competir, racionalizar e encarar qualquer desafio. O efeito colateral dessa conquista é o distanciamento da nossa essência. É o que apontam as pesquisadoras e entusiastas do Sagrado Feminino, movimento que resgata a sabedoria e a consciência ancestral. Não à toa, saberes antigos, como o uso das ervas, dos rituais de beleza e da medicina antiga natural, além da prática de se reunir em círculos, começam a ganhar holofotes novamente.

MAS O QUE É O SAGRADO FEMININO?

“É o que é mais puro e natural na essência feminina. É a sabedoria que brota do útero, da conexão com os ciclos naturais e da lua. É a sabedoria da medicina das plantas. É olhar pra dentro e descobrir tudo o que faz nosso coração vibrar anteriormente a qualquer convenção ou padrões ditados. É a amorosidade, sororidade, colaboratividade, respeito à mãe terra aos nossos ciclos e nosso corpo”, define Anna Sazanoff.

E o conceito não exclui o universo masculino. “Despertar o sagrado feminino é acordar o senso de colaboratividade em si. A proposta deve ser de reencontro, reconhecimento e reconexão individual pois o reflexo no coletivo acaba sendo inevitável”, completa a palestrante, escritora e facilitadora de encontros, Kareemi Prem.


(Ilustração: Monica Crema)

(Ilustração: Monica Crema)


“As mulheres precisaram se masculinizar para conquistar espaço, sobretudo profissional. Elas conseguiram, mas com dupla jornada: em casa e na profissão. Resultado: têm pouco ou nenhum tempo para si próprias”, afirma a terapeuta holística e facilitadora de círculo, Bebel Clark, do Rio de Janeiro.

Em geral, segundo as terapeutas, a falta de conexão com a essência feminina e com a natureza apresenta algumas características, como insônia, enxaqueca, dores no corpo e, sobretudo, sensação de vazio.

 “Um exemplo é a mulher que acorda com agenda preparada,  não encontra tempo para respirar ou refletir sobre o que está sentindo durante o dia. Toma o café da manhã sem parar para degustar e não se permite sentir. Como um trator que elimina pendências dia a dia, age automaticamente, controla e é rígida com os outros e consigo mesma. Para preencher esse vazio, se vale do consumo, seja por roupas ou até comida”, completa. “Excesso de racionalidade, intolerância e dificuldade de ouvir a intuição não são características femininas. Não é ruim ser racional. O desequilíbrio vem do excesso”, alerta Bebel.

O RETORNO

Essa sensação de vazio, no entanto, é justamente o que tem gerado a atual necessidade de reconexão. “É a chamada ‘virada da mesa da luz’, que acontece quando experimentamos muitas formas de tecnologia, avanço de ciência e medicina, infinitas opções de consumo e distrações, e, ainda assim, sentimos um grande vazio. Nos damos conta que o caminho é bem mais simples e que tudo o que precisamos está e esteve sempre presente, acessível e abundante”, explica Anna Sazanoff.

“Como num processo natural, o despertar está acontecendo e estamos relembrando o que é simples e belo. E esse processo ocorre no mundo todo” – Anna Sazanoff

Para a paulistana Bia Fioretti, idealizadora do projeto Mães da Pátria, o processo de redescobrimento, independente de qualquer movimento coletivo, é individual. “Cada mulher vai descobrindo seus limites à medida que amadurece.” Depois de entrevistar centenas parteiras brasileiras que se dedicam ao nascimento por meio de saberes tradicionais, ela concluiu que o Sagrado Feminino, na verdade, nunca se perdeu.

“Se fala mais agora por causa das mídias sociais. Mas a mulher sagrada e sábia nunca desapareceu. Olhe dentro da sua família e identifique qual mulher você conhece que é agregadora, tem autoridade, confiabilidade e sem impôr autoritarismo. São inúmeras, porém, muitas vezes não a reconhecemos como tal”, reflete Bia Fioretti.

O QUE É QUE A ESSÊNCIA TEM?


sagrado feminino dia

A ocitocina, hormônio do amor, produzida no parto e quando as mulheres passam o tempo juntas


Se você entrou no fluxo dos padrões racionais impostos, deve estar se perguntando: qual a necessidade de uma reconexão com essência feminina a essa altura da vida moderna?

“As mulheres ficam mais criativas, intuitivas, alegres, bonitas! São melhores pessoas, porque são melhores mulheres para si. Ela sabe que a vida com percalços é leve, que nada acontece por acaso e está sempre atenta às  sincronicidades. Valorizam a simplicidade, são elas mesmas e desfrutam disso” – Bebel Clark.

MENOS COMPETITIVIDADE, MAIS CO-CRIAÇÃO

A mesma modernidade que criou formas de afastar e gerar competitividade também é usada como recurso de empoderamento. Foi na internet que nasceram projetos importantes que debatem e disseminam o tema. O Matricaria – Guia Virtual de ecologia feminina, por exemplo, reverencia a ginecologia ecológica e natural, e idealizou o Manual das Ervas para o Ciclo Feminino. O documento, em PDF, reúne receitas e dicas para sintomas dos ciclos naturais. Já a Rede Colmeia, é uma iniciativa de economia solidária que propõe reunir mulheres empreendedoras de todo o País. No Facebook, grupos como o Conversa entre Flores , cumprem o papel de reunir mulheres de diferentes lugares, mas com a mesma busca pessoal.

“Mas é importante ressaltar que esse despertar não está ligado ao estereótipo da mulher com saias e flores no cabelo. É uma jornada interna, de dentro para fora” – Morena Cardoso, escritora, pesquisadora, terapeuta corporal  e holística

{{{{{ NA PRÁTICA: RESGATE A SUA ESSÊNCIA }}}}}

Hábitos do dia a dia que despertam a feminilidade e a colaboratividade


essência feminina

REÚNA-SE | Os chamados “Círculos de Mulheres”  ressurgem como fruto do interesse pelo movimento. São refúgios entre irmãs. Em, São Paulo acontecem encontros quinzenais no centro eco-cultural Casa Jaya, na Vila Madalena. No mesmo bairro, há rodas no New Way. O Quintal das Flores, em Perdizes, e no Sarastati Yoga e Espaço Vajra, ambos na Vila Mariana,  promovem práticas similares.

No Rio de Janeiro, os encontros promovidos pela terapeuta Bebel Clark são súper requisitados, assim como os círculos da  Naya Terapias, em Curitiba.  Alguns funcionam como rodas de conversas, outros de dança. Algumas vezes, práticas de yoga e confecção de mandalas terapêuticas dão o tom. Em comum, zero competitividade, nenhuma energia gasta com disputa com o gênero oposto.

“Entendam: juntas e reunidas conseguiremos isso mais rápido” – Kareemi Prem.



sagrado 3

Alguém sabe quem fez essa ilustração? Se sim, por amor avisar, que adicionamos ao crédito


PERMITA-SE | Tente compreender do que seu corpo, mente e espírito, necessitam. Eles podem pedir por meio de uma angústia, de uma necessidade de liberdade, de alguma manifestação física…Pode ser um banho demorado, um dia com as amigas, ou um momento de silêncio. Faça retiros, viaje sozinha e aprecie a própria companhia.

EQUILIBRE OS HORMÔNIOS | “A primeira atitude para acordar a a essência feminina é se livrar dos hormônios e toda a química das pílulas anticoncepcionais. Tais remédios nos  desconectam completamente do nosso ciclo natural e do nosso feminino sagrado. Com eles não vivemos as 4 fases que passamos a cada ciclo de 28 dias e que nos harmonizam com toda essa sabedoria ancestral. Digo que hoje em dia as pilulas funcionam como a inquisição na idade média”, afirma a terapeuta Anna Sazanoff.

RE-SIGNIFIQUE OS CICLOS| Como? Aceitando a menstruação com o um processo natural do organismo. As últimas gerações cresceram acreditando que menstruar é algo sujo e doloroso. Experimente abolir a palavra TPM do vocabulário. A fase é de introspecção e sensibilidade, sim. Não precisa ir contra a corrente, pelo contrário: se possível, recolha-se, abra-se com uma amiga, beba chás. Alguns hábitos pedem urgência: troque o absorvente sintético (fruto de alergias e plásticos poluentes para o meio ambiente) por alternativas sustentáveis e que não influenciam o organismo, como o coletor menstrual ou os bioabsorventes (de pano).


menstruação sagrado feminino

PLANTE SUA LUA | “Nas tradições matriarcais originárias, as mulheres ofereciam ritualmente seu sangue menstrual para a Terra. Hoje em dia perdemos de muitas maneiras o nosso relacionamento instintivo com Pachamama e em conseqüência disto, estamos cheias de inseguranças, arraigadas em padrões de medo, ansiedade e escassez”, explica a terapeuta Morena Cardoso.

“Para coletar seu sangue utilizando bioabsorventes, é necessário deixá-los de molho por algumas horas na água, sem nenhum produto químico. É esta água com o sangue que você irá utilizar para entregar à terra (depois de coletado o seu sangue você poderá lavar o absorvente da forma como preferir, e reutilizá-lo). Em ambos os casos, você pode entregar seu sangue para terra em um jardim ou em um simples vasinho de planta em seu apartamento. Você pode também escolher alguma planta específica que tenha um significado especial.”, ensina Morena.


(Não sei de quem é essa ilustra linda. SE alguém souber, me conta para dar o crédito? )

(Não sabemos de quem é essa ilustra linda. Se alguém souber, me conta para dar o crédito? )


ADOTE TERAPIAS ALTERNATIVAS | Encontre uma prática integrativa que desperte o melhor de você. . “Além do contato com a natureza, as terapias naturais nos trazem toda a força da natureza. Algumas ásanas da prática da yoga, danças, chás e massagens contribuem para o resgate dessa essência”, indica Anna Sazanoff.

OBSERVE SEUS CICLOS | Crie o hábito de se auto-observar no dia a dia. A Morena Cardoso criou um formato prático da Mandala da Lua, uma ferramenta que nos ajuda a identificar padrões mês a mês. “Somos mulheres cíclicas e, entender cada fase, nos ajuda a aceitar e honrar esta condição”, diz.

GERÂNIO, SEU MELHOR AMIGO | “O óleo de gerânio é o óleo essencial da mulher”, afirma a aromaterapeuta Beatriz Yoshimura, especialista da Aromalife e da Aromaflora, em São Paulo. Em termos de medicina chinesa, este é um óleo que tonifica o Yin, indicado para ansiedade crônica, infertilidade e sintomas da menopausa.

“O gerânio regula os hormônios femininos naturalmente e por isto é tão indicado para TPM e problemas na menopausa. Além de equilibrador, ele é antidepressivo e sedativo, sendo ótimo para amenizar casos de irritabilidade e alterações de humor”, completa a especialista. Para usá-lo no dia a dia, experimente diluí-lo em óleo vegetais corporais, em aromatizadores e ambiente e pessoais, além de incluí-lo em cosméticos naturais.


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Honradas sejam… todas as que vieram antes de nós e deixaram seus rastros que hoje buscamos seguir… Honradas sejam Viraram estrelas nos céus Para seguirmos seus rastros na terra… Honradas sejam… (Carmem K’hardana)

Você conhece a artista ou sabe da autoria de algumas das ilustrações acima? Se sim, pode nos avisar? Todas foram encontradas, sem crédito, na internet. Adoraríamos creditá-las devidamente. 

Aqui, outras mulheres explicam de maneira ainda mais aprofundada:


Aqui, a terapeuta Bebel Clark:


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