Conheci esse copinho de silicone – usado como um espécie absorvente interno – que coleta o fluxo em vez de absorvê-lo – em 2010. O item, à época inusitado, foi tema de uma reportagem que escrevi para o extinto JT, do Grupo Estado. Cinco anos depois, o coletor menstrual continua como uma alternativa sustentável comum na Europa, mas ainda é rara por aqui
À época, comentei a reportagem no meu antigo blog de beleza. Reproduzo abaixo, junto com um vídeo que ensina como usá-lo.
{2010}
Quantos absorventes descartáveis você usa por ciclo menstrual? Já calculou o impacto que esta quantidade causa no meio ambiente e no seu bolso? Algumas brasileiras, sobretudo as mais engajadas com a ecologia, já optam por uma alternativa que dura 10 anos e é amplamente usada pelas europeias: o coletor menstrual.
O mais interessante, porém, é que o uso do coletor vai além da questão ecológica. As adeptas geralmente procuram algo natural, que tenha relação com o resgate da natureza feminina. Tanto que, para simbolizar esse resgate, muitas despejam o sangue menstrual na terra! “Poderia jogá-lo no ralo, mas opto por cultuar minhas funções femininas“, afirmou a terapeuta corporal Bárbara Bolzani, de 25 anos, uma das entrevistadas. “Não vemos o sangue como algo sujo. A cada ciclo pratico autoconhecimento“, disse Juliana Vergueiro, de 26 anos, revendedora, em SP, da Mooncup, fabricado no Reino Unido e a marca mais importada por aqui. Ainda pude ouvir a justificativa da Ana, uma portuguesa: “Não gostava da ideia de colocar absorventes com substâncias químicas e cheiro e, depois, ainda sujar o meio ambiente“.
(Não sei de quem é essa ilustra linda. Se alguém souber, me conta para dar o crédito?)
O uso do coletor estaria ligado a um movimento ainda sem força no Brasil, o ecofeminismo, me disse a antropóloga Daniela Manica, da Unicamp. “Quando nos cortamos ninguém tem nojo do nosso sangue, mas o sangue menstrual provoca constrangimento ao ser visto. Existem vários tabus em torno da menstruação e a maioria é passado de geração em geração”, observou.
A ideia das usuárias do coletor é exatamente quebrar esses tabus em relação ao corpo da mulher. É mais que uma questão sustentável, mas de comportamento ideológico. Exatamente por isso, não sei se a moda pega por aqui. Além disso, como me disse um ginecologista, as brasileiras, apesar da maior liberdade sexual, têm pudor em tocar a própria região genital. O diafragma, também difundido na Europa e colocado manualmente, não fez sucesso como contraceptivo.
Pra quem já pensou “será que é bom pra saúde“, os ginecologistas que entrevistei disseram que sim. “Não tem nenhuma contraindicação “, garantiu o ginecologista do Hospital Sírio Libanez SP, José Carlos Sadala. Inclusive, teria até menos riscos de alergia que o descartável – que se tiver perfume tem ainda mais substâncias químicas. “Mas tudo vai depender da forma de uso”.
E pra quem se pergunta se abandonar a praticidade dos descartáveis faz diferença no meio ambiente, o consultor ambiental Maurício Waldman acredita que sim. O absorvente descartável leva cerca de 100 anos para se degradar no meio ambiente. Imagina a embalagem?(!) “E mesmo sumindo após 100 anos, o perigo não desaparece, só fica invisível”. O coletor menstrual dura, em média, 10 anos.
Será que vaza? As adeptas e os médicos disseram que os riscos de vazamento são ainda menores que o do descartável. A cada 4 ou 8 horas é preciso esvaziá-lo e colocá-lo de novo. Quando a menstruação acabar, esterilize como se fosse um bico de mamadeira, guardando-o longe de bactérias.
Como o coletor não é fabricado aqui no Brasil, acesse a página de revendedoras da mooncup no país e veja a mais próxima da sua cidade.
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