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1 ano sem lixo: designer brasileira conta como conseguiu

Depois de refletir sobre a quantidade de lixo que produzia e ver no quê ele consistia, a designer Cristal Muniz se auto-desafiou: produzir o mínimo possível de lixo. Isso foi em dezembro de 2014. Doze meses depois, o que era um projeto-blog – um ano sem lixo – com meta transformou-se em um estilo de vida. Do descarte das embalagens à moda, Cristal é cheia de alternativas sustentáveis e práticas.

Nessa entrevista ao a Naturalíssima, ela conta como foi trilhar este caminho sem perder a praticidade da rotina urbana na qual vive. E ainda dá suas dicas espertas para diminuir o lixo no dia a dia


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Cristal Muniz: desafio de ficar 1 ano sem lixo


Quais foram os primeiros passos para iniciar o projeto? As primeiras compras foram o coletor menstrual e a composteira. Mas, como comia muito fora, percebi que precisava de um kit…

O que forma esse kit? Como a sua rotina é hoje, aliás? Antes de sair de casa eu confiro se estou levando um guardanapo de pano e uma sacolinha de pano, caso já saiba que vou comprar algo. Tenho sempre talheres e um copinho na bolsa. Pra fazer compras eu vou uma vez por semana na feira e, se preciso, mais uma em alguma loja a granel. Levo muitos potes e sacolinhas de pano, mas geralmente vou sabendo o que comprar, até pra não desperdiçar comida depois.

Quais os resultados desse último ano? Chegou a medir quantidade de lixo que deixou de produzir? Acabei não medindo exatamente o que eu produzia antes. Mas metade era de restos de comidas que não vão mais pro lixo porque tenho uma composteira. Então 50% eu reduzi aí. Antes eu lembro de levar 1 ou 2 sacolas de lixo reciclável por semana. Hoje eu levo 1 a cada 3, 4 semanas.

Eu achava que iria mudar muito, mas o que muda é o hábito.

Tu faz a mesma coisa só que com o objeto diferente. É tipo começar a usar óculos ou parar de comer alguma coisa, tipo glúten, lactose ou carne. No começo tu esquece, não se planeja, fica na roubada. Mas aos poucos tu se precave o suficiente e usando o menor esforço.

Qual foi o período mais complicado? As dificuldade vem e vão. As maiores são: as emergências, papel higiênico, medicamentos e camisinha. Pra não produzir lixo você precisa estar sempre preparado de alguma forma: ter um guardanapo, talheres, copo, sacola, etc na bolsa. Caso você tenha esquecido alguma coisa e precise comer fora, vai reduzir as possibilidades aos lugares que não dão coisas descartáveis com a comida. O papel higiênico eu ainda uso e ele vai pro aterro sanitário (o melhor jeito de se desfazer dele seria pelo vaso, mas não temos 1) encanamento adequado 2) papel que se dissolva rápido e 3) tratamento de esgoto em todas as casas), então estou planejando parar de usar, colocar uma ducha e usar toalhinhas pra secar. Medicamentos e camisinha são inevitáveis e imprescindíveis.

Quais foram as suas descobertas mais interessantes nesse período? Difícil essa pergunta. Primeiro umas alternativas muito legais pras coisas tradicionais, como usar bucha vegetal no lugar da esponja de plástico pra lavar a louça. Depois, a quantidade de químicos nocivos e comprovadamente nocivos que todos os produtos, dos cosméticos às comidas etc etc tem e as pessoas continuam usando e emitindo essas informações.

A ideia era gerar menos lixo. Você imaginava que isso iria impactar a sua relação com a beleza, moda e até higiene de casa? Com certeza, já que a gente produz muito lixo nas embalagens de todas essas coisas. Eu não imaginava que ia conseguir fazer tantas coisas em casa. Agora sei fazer hidratante, esfoliante, máscara pra pele, vinagre, tofu, sabão pra lavar roupa etc.

Teve problemas de relacionamento? Alguém da família, namorado, amigos que implicaram? Engraçado que não. Claro que tem brincadeira entre amigos, mas nada pejorativo… Algumas pessoas de atendimento do dia a dia ficam me olhando meio estranho, mas eu geralmente explico  o porquê e normalmente elas acham legal. Meu namorado super me apoia e tem orgulho de eu pedir subway no guardanapo de pano e também parou de pegar sacolinhas e a 2ª via do cartão, além de ter trocado o desodorante e começou a pensar mais sobre o assunto. Outro dia ele disse que ia parar de comer sachês de ketchup porque é muito lixo: quase chorei (risos).

Eu acabei criando um problema que as pessoas não viam como problema. Elas me culpam e me agradecem (risos) porque agora se sentem culpadas e querem separar o lixo, mudar hábitos, fazer trocas…
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